sexta-feira, 29 de outubro de 2010

DESPEDIDA DO PADRE

O Padre no jantar de despedida pelos 25 anos de trabalho
ininterrupto à frente de uma paróquia discursa:

- A primeira impressão que tive da paróquia, foi com a primeira
confissão que ouvi. A pessoa confessou ter roubado um aparelho de TV,
dinheiro dos seus pais, a empresa onde trabalhava, além de ter
aventuras amorosas com a esposa do chefe. Também se dedicava ao
tráfico de drogas e havia transmitido uma doença venérea à própria
irmã. Fiquei assustadíssimo. Com o passar do tempo, entretanto,
conheci uma paróquia cheia de gente responsável, com valores,
comprometida com sua fé, e desta maneira tenho vivido os 25 anos mais
maravilhosos do meu sacerdócio.


Chega o prefeito para entregar o presente da comunidade, prestando
a homenagem ao padre. Ele pede desculpas pelo atraso e começa o
discurso:

- Nunca vou esquecer do dia em que o padre chegou à nossa paróquia.
Como poderia? Tive a honra de ser o primeiro a me confessar.
Silêncio total...

*MORAL DA HISTÓRIA:*
Nunca se atrase!!!

MEIOS DE TRANSPORTE NO CÉU.

Um homem sofreu um acidente fatal e morreu, chegando ao céu São Pedro lhe dá uma BMW e lhe diz:
- Você nunca traiu sua esposa na sua vida, portanto esse carro é pra você andar no céu.

O próximo ganhou um corsinha porque tinha traído só um pouquinho.

O seguinte ganhou um fusquinha porque tinha traído muito.

Em certo dia, o cara do fusquinha vê o da BMW parado no acostamento, puxando os cabelos, dando pontapés no carro...
Então, o do fusca resolve consolá-lo:
- Você com um carrão desses, estressado desta maneira, e eu aqui com um fusca, feliz da vida, o que aconteceu?

Imediatamente o da BMW lhe responde:
- Minha mulher acabou de passar por aqui, a filha da puta tá andando de bicicleta...

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

advogado X advogada!!!

TERRÍVEL...!
Quando Eduardo, um belo e promissor jovem advogado, descobriu que herdaria uma fortuna quando seu pai morresse, devido a uma doença terminal, decidiu que era uma boa altura para encontrar uma mulher que fosse a sua companheira para a vida fácil que se avizinhava.

Assim, numa determinada noite, ele foi até o bar da Ordem dos Advogados, onde conheceu uma advogada, a mais bonita que já tinha visto em toda a sua vida.
Sua extraordinária beleza, o porte elegante, o corpo curvilíneo, a inteligência, a maneira de falar... deixaram-no sem respiração.

- Eu posso parecer um advogado comum - disse-lhe, enquanto iniciava o diálogo para a conquista da musa - mas, dentro de dois ou três meses, o meu pai vai morrer, e eu herdarei 20 milhões de euros.

Impressionada, a bela advogada foi para casa com ele naquela noite...

Três dias depois, tornou-se sua madrasta.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Aos Principais da Bahia Chamados os Caramuru [gregório de matos guerra]

    Há cousa como ver um Paiaiá
    Mui prezado de ser Caramuru,
    Descendente de sangue de Tatu,
    Cujo torpe idioma é cobé pá.

    A linha feminina é carimá
    Moqueca, pititinga caruru
    Mingau de puba, e vinho de caju
    Pisado num pilão de Piraguá.

    A masculina é um Aricobé
    Cuja filha Cobé um branco Paí
    Dormiu no promontório de Passé.

    O Branco era um marau, que veio aqui,
    Ela era uma Índia de Maré
    Cobé pá, Aricobé, Cobé Paí.

Ó minha amada [vinícius de moraes]

Ó minha amada
Que olhos os teus
São cais noturnos
Cheios de adeus
São docas mansas
Trilhando luzes
Que brilham longe
Longe dos breus...

Ó minha amada
Que olhos os teus
Quanto mistério
Nos olhos teus
Quantos saveiros
Quantos navios
Quantos naufrágios
Nos olhos teus...

Ó minha amada
Que olhos os teus
Se Deus houvera
Fizera-os Deus
Pois não os fizera
Quem não soubera
Que há muitas era
Nos olhos teus.

Ah, minha amada
De olhos ateus
Cria a esperança
Nos olhos meus
De verem um dia
O olhar mendigo
Da poesia
Nos olhos teus.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Trem de ferro [Manuel Bandeira]

Café com pão
Café com pão
Café com pão

Virge Maria que foi isso maquinista?

Agora sim
Café com pão
Agora sim
Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força

Oô...
Foge, bicho
Foge, povo
Passa ponte
Passa poste
Passa pasto
Passa boi
Passa boiada
Passa galho
Da ingazeira
Debruçada
No riacho
Que vontade
De cantar!

Oô...
Quando me prendero
No canaviá
Cada pé de cana
Era um oficiá
Oô...
Menina bonita
Do vestido verde
Me dá tua boca
Pra matar minha sede
Oô...
Vou mimbora vou mimbora

Não gosto daqui
Nasci no sertão
Sou de Ouricuri
Oô...

Vou depressa
Vou correndo
Vou na toda
Que só levo
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente...

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

VOLTAS FELICIDADE[ mais um poema do vilão]

VOLTAS FELICIDADE


Voltas, oh felicidade

Que muito me fez sorrir

Quando estavas comigo

Alegria me fez sentir.


Voltas, oh felicidade

Que trouxe o meu amor

Quando estavas comigo

Não sofri nenhuma dor.


Voltas, oh felicidade

Qu’alegrou meu coração

Quando estavas comigo

Fiz poesia, canção.


Voltas, oh felicidade

Que me fez fazer proeza

Desde que fostes embora

Minha vida é só tristeza.

Wandderson Fernandez, 20/11/2001

domingo, 24 de outubro de 2010

Exigências da Vida Moderna [Luís Fernando Veríssimo]


Dizem que todos os dias você deve comer uma maçã por causa do ferro.
E uma banana pelo potássio.
E também uma laranja pela vitamina C. Uma xícara de chá verde sem açúcar para prevenir a diabetes.
Todos os dias deve-se tomar ao menos dois litros de água. E uriná-los, o que consome o dobro do tempo.
Todos os dias deve-se tomar um Yakult pelos lactobacilos (que ninguém sabe bem o que é, mas que aos bilhões, ajudam a digestão). Cada dia uma Aspirina, previne infarto. Uma taça de vinho tinto também. Uma de vinho branco estabiliza o sistema nervoso. Um copo de cerveja, para... não lembro bem para o que, mas faz bem. O benefício adicional é que se você tomar tudo isso ao mesmo tempo e tiver um derrame, nem vai perceber.
Todos os dias deve-se comer fibra. Muita, muitíssima fibra. Fibra suficiente para fazer um pulôver.
Você deve fazer entre quatro e seis refeições leves diariamente. E nunca se esqueça de mastigar pelo menos cem vezes cada garfada. Só para comer, serão cerca de cinco horas do dia...
E não esqueça de escovar os dentes depois de comer. Ou seja, você tem que escovar os dentes depois da maçã, da banana, da laranja, das seis refeições e enquanto tiver dentes, passar fio dental, massagear a gengiva, escovar a língua e bochechar com Plax. Melhor, inclusive, ampliar o banheiro e aproveitar para colocar um equipamento de som, porque entre a água, a fibra e os dentes, você vai passar ali várias horas por dia.
Há que se dormir oito horas por noite e trabalhar outras oito por dia, mais as cinco comendo são vinte e uma.
Sobram três, desde que você não pegue trânsito. As estatísticas comprovam que assistimos três horas de TV por dia. Menos você, porque todos os dias você vai caminhar ao menos meia hora (por experiência própria, após quinze minutos dê meia volta e comece a voltar, ou a meia hora vira uma).
E você deve cuidar das amizades, porque são como uma planta: devem ser regadas diariamente, o que me faz pensar em quem vai cuidar delas quando eu estiver viajando.
Deve-se estar bem informado também, lendo dois ou três jornais por dia para comparar as informações.
Ah! E o sexo! Todos os dias, tomando o cuidado de não se cair na rotina. Há que ser criativo, inovador para renovar a sedução. Isso leva tempo - e nem estou falando de sexo tântrico.
Também precisa sobrar tempo para varrer, passar, lavar roupa, pratos e espero que você não tenha um bichinho de estimação. Na minha conta são 29 horas por dia.
A única solução que me ocorre é fazer várias dessas coisas ao mesmo tempo! Por exemplo, tomar banho frio com a boca aberta, assim você toma água e escova os dentes. Chame os amigos junto com os seus pais. Beba o vinho, coma a maçã e a banana junto com a sua mulher... na sua cama.
Ainda bem que somos crescidinhos, senão ainda teria um Danoninho e se sobrarem 5 minutos, uma colherada de leite de magnésio.
Agora tenho que ir.
É o meio do dia, e depois da cerveja, do vinho e da maçã, tenho que ir ao banheiro.
E já que vou, levo um jornal... Tchau!
Viva a vida com bom humor!!!

sábado, 23 de outubro de 2010

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

crônica de professor!

· Professor:Hoje, eu vou provar pra vocês que se Deus existe, ele é mal.Deus criou tudo que existe? (pausa)

· Professor:Se Deus criou tudo...então ele criou o mal. O que significa que Deus é mal.

· -um garotinho lá atrás levanta a mão-

· Garoto:Com lincença, Professor...o frio existe?

· Professor:Que tipo de pergunta é essa?...Claro que ele existe.Você nunca teve frio?

· Garoto:Na verdade senhor, o frio não existe. De acordo com as leis da física, o que nós consideramos frio é , na realidade, ausência de calor. - o garoto continua - Professor, a escuridão existe?

· Professor:Claro que existe.

· Garoto:Você está errado senhor. A escuridão também não existe. A escuridão, na realidade, é a ausência de luz. A luz , nós podemos estudar mas não a escuridão. O mal não existe, é a mesma coisa da escuridão e do frio. Deus não criou o mal. O mal é resultado do que acontece quando o homem não tem o amor de Deus presente em seu coração.

· - O garoto se senta-

· Professor:Como é seu nome garoto?

· Garoto:Albert Einstein, senhor.

Leito de Folhas Verdes [Gonçalves Dias]

Por que tardas, Jatir, que tanto a custo
À voz do meu amor moves teus passos?
Da noite a viração, movendo as folhas,
Já nos cimos do bosque rumoreja.

Eu sob a copa da mangueira altiva
Nosso leito gentil cobri zelosa
Com mimoso tapiz de folhas brandas,
Onde o frouxo luar brinca entre flores.

Do tamarindo a flor abriu-se, há pouco,
Já solta o bogari mais doce aroma!
Como prece de amor, como estas preces,
No silêncio da noite o bosque exala.

Brilha a lua no céu, brilham estrelas,
Correm perfumes no correr da brisa,
A cujo influxo mágico respira-se
Um quebranto de amor, melhor que a vida!

A flor que desabrocha ao romper d'alva
Um só giro do sol, não mais, vegeta:
Eu sou aquela flor que espero ainda
Doce raio do sol que me dê vida.

Sejam vales ou montes, lago ou terra,
Onde quer que tu vás, ou dia ou noite,
Vai seguindo após ti meu pensamento;
Outro amor nunca tive: és meu, sou tua!

Meus olhos outros olhos nunca viram,
Não sentiram meus lábios outros lábios,
Nem outras mãos, Jatir, que não as tuas
A arazóia na cinta me apertaram.

Do tamarindo a flor jaz entreaberta,
Já solta o bogari mais doce aroma
Também meu coração, como estas flores,
Melhor perfume ao pé da noite exala!

Não me escutas, Jatir! nem tardo acodes
À voz do meu amor, que em vão te chama!
Tupã! lá rompe o sol! do leito inútil
A brisa da manhã sacuda as folhas!

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

meus sete anos [Oswald de Andrade]



Papai vinha de tarde
da faina de labutar
Eu esperava na calçada
Papai era gerente
Do Banco Popular
Eu aprendia com ele
Os nomes dos negócios
Juros hipotecas
Prazo amortização
Papai era gerente
Do Banco popular
Mas descontava cheques
No guichê do coração

As quatro gares [Oswald de Andrade]



infância

O camisolão
O jarro
O passarinho
O oceano
A visita na casa que a gente sentava no sofá


adolescência

Aquele amor
nem me fale

maturidade

O Sr. e a Sr. Amadeu
Participam a VExa.
O feliz nascimento
De sua filha
Gilberta


velhice

O menino jogou os óculos
Na latrina

(...)

Lóide Brasileiro [Oswald de Andrade]



canto do regresso à pátria

Minha terra tem palmares
Onde gorgeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como o de lá

Minha terra tem mais rosas
E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra


Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá

Não permita Deus que eu morra
Sem que volte pra São Paulo
Sem que veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

mais di Joãozinho!



A professora escorrega e leva o maior tombo na sala de aula.
Na queda, o seu vestido sobe até a cabeça.
Levanta-se imediatamente, puta da vida, ajeita-se, e interroga os alunos:
_Luisinho, o que você viu?
_Seus joelhos, professora.
_Uma semana de suspensão!
_E você Carlinhos?
_Suas coxas, professora.
_Um mês de suspensão.
_E você Joãozinho?
Joãozinho pega nos cadernos e vai logo saindo da sala:
_Bom, galera, até o ano que vem....

terça-feira, 19 de outubro de 2010

mais di Joãozinho!

Na escola, a professora falava dos animais:
_Para que serve a ovelha, Marcinha?
_Para nos dar a lã, professora...
_E para que serve a galinha, Marquinho?
_Para nos dar os ovos...
_E para que serve a vaca, Joãozinho?
_Para nos passar lição de casa...

ALGUMAS MANEIRAS DE FAZER ALGUÉM FELIZ



Dê um beijo.
Um abraço.
Um passo em sua direção.
Aproxime-se sem cerimônia.
Dê um pouco de calor, do seu sentimento.
Sente-se perto e fique por algum tempo.

Não conte o tempo de se doar.
Liberte um imenso sorriso.

Rasgue o preconceito
Olhe nos olhos.
Aponte um defeito, com jeito.
Respeite uma lágrima.
Ouça uma história ou muitas, com atenção.
Escreva uma carta e mande.
Irradie simplicidade, simpatia, energia.

Num toque de três dedos, observe as “coincidências”.
Não espere ser solicitado, preste um favor.
Lembre-se de um caso.
Converse sério ou fiado.
Conte uma piada.
Ache graça.
Ajude a resolver um problema.
Pergunte: Por quê? Como vai?
Como tem passado?
Que tem feito de bom?
Que há de novo? E preste atenção.
Sugira um passeio, um bom livro, um bom filme.
Diga de vez em quando, desculpe, muito obrigado,
Não tem importância, que há de se fazer, dá-se um jeito.
Tente de alguma maneira ...


E não se espante se a pessoa mais feliz for você!!!

O Vilão tá muito sentimental hoje!!!!hauhaauhau

Não Confunda!!!!


O amor não é aquilo que te pega de surpresa e te deixa totalmente sem ar. O nome disso é asma.


O amor não faz brotar uma nova pessoa dentro de você. O nome disso é gravidez.



O amor não torna as pessoas mais bonitas. O nome disso é álcool



Se beber fosse pecado, Jesus teria transformado água em Fanta Uva!



Se você não quer ouvir reclamações, trabalhe no SAC de alguma empresa fabricante de paraquedas



Todo mundo comete erros. O truque é cometê-los quando ninguém está olhando.



Calculei meu IMC e constatei que minha altura está 20 cm abaixo da ideal.



Leio a Playboy pela mesma razão que leio a National Geographic: Gosto de ver fotografias de lugares que sei que nunca irei visitar.



Dizem que a bebida resolve todos os problemas. Pra mim ainda não resolveu, mas eu sou brasileiro e não desisto nunca!



As melhores crianças do mundo são as japonesas. Estão a 20 mil quilômetros de distância e quando estão acordadas eu estou dormindo.



Se acupuntura adiantasse, porco-espinho viveria para sempre.



Quando a gente envelhece, o cabelo embranquece, o osso adoece, o joelho endurece, a vista escurece, a memória esquece, a gengiva aparece, a hemorróida engrandece, a barriga cresce, a pelanca desce, o pau amolece, o ovo padece, a mulher se oferece, a gente agradece. Ah se eu pudesse! E ainda fica pendurado no INSS



Calorias são pequenos vermes inescrupulosos que vivem nos guarda-roupas, e que a noite ficam costurando e apertando as roupas das pessoas.



Se você se lembra de quantas bebeu ontem, então você não bebeu o bastante.



Quando sua mulher fica grávida, todos alisam a barriga dela e dizem "parabéns". Mas ninguém apalpa seu saco e diz "bom trabalho"






Cerveja sem álcool é igual travesti: a aparência é igual, mas o conteúdo é bem diferente!



Se vegetarianos amam tanto assim os animais, por que eles comem toda comida dos pobrezinhos?

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Definidas as datas de vendas de ingressos para o segundo show de Paul McCartney em S�o Paulo - Celebridades - Not�cia - VEJA.com

Definidas as datas de vendas de ingressos para o segundo show de Paul McCartney em S�o Paulo - Celebridades - Not�cia - VEJA.com

As 10 not�cias mais bizarras dos �ltimos tempos | 10 Mais - VEJA.com

As 10 not�cias mais bizarras dos �ltimos tempos | 10 Mais - VEJA.com

Milionário ou Otário? [mais um poema do Vilão]

Mais um poema meu aqui, aguardo comentários!!!


MILIONÁRIO OU OTÁRIO?

Hoje sou um pobretão.

Isso não va longe não

Oh, eu vou mudar de vida,

Vou faturar um milhão

Hoje eu não tenho nada,

Mas que vida desgraçada.

Mas um dia terei tudo

Serei um homem sortudo.

Hoje eu sou desprezado,

Um simples pobre coitado,

Mas oh, vou mudar de quadro

Quando for, cara abonado.

Moro na periferia,

Num barraco porcaria.

Mas quando eu enricar

Num palácio vou morar.

Eu só tenho um fusquinha,

Vale nada. É rebinha

Mas ah, não dá nada não.

Sim, terei o meu carrão.

Oh, eu sei que serei rico

Freqüentarei bons lugares,

Vou sair desse castigo,

Ter que ir em pobres bares.

E dizem que a riqueza

Não traz a felicidade,

Eu afirmo com certeza

Que isso não é verdade.

Mas que coisa, que otário!

É que de tanto sonhar

Em ser um tal milionário.

Eu atrasei pro trabalho.

Wandderson Fernandez, 29/10/2003

domingo, 17 de outubro de 2010

O Gato Preto [Edgar Allan Poe]




Não espero nem peço que se dê crédito à história sumamente extraordinária e, no entanto, bastantedoméstica que vou narrar. Louco seria eu se esperasse tal coisa, tratando-se de um caso que os meus próprios sentidos se negam a aceitar. Não obstante, não estou louco e, com toda a certeza, não sonho. Mas amanhã posso morrer e, por isso, gostaria, hoje, de aliviar o meu espírito. Meu propósito imediato é apresentar ao mundo, clara e sucintamente, mas sem comentários, uma série de simples acontecimentos domésticos. Devido a suas conseqüências, tais acontecimento me aterrorizaram, torturaram e destruíram. No entanto, não tentarei esclarecê-los. Em mim, quase não produziram outra coisa senão horror - mas, em muitas pessoas, talvez lhes pareçam menos terríveis que grotescos. Talvez, mais tarde, haja alguma inteligência que reduza o meu fantasma a algo comum - uma inteligência mais serena, mais lógica e muito menos excitável do que a minha, que perceba, nas circunstâncias a que me refiro com terror, nada mais do que uma sucessão comum de causas e efeitos muito naturais.

Desde a infância, tornaram-se patentes a docilidade e o sentido humano de meu caráter. A ternura de meu coração era tão evidente, que me tornava alvo dos gracejos de meus companheiros. Gostava, especialmente, de animais, e meus pais me permitiam possuir grande variedade deles. Passava com eles quase todo o meu tempo, e jamais me sentia tão feliz como quando lhes dava de comer ou os acariciava. Com os anos, aumentou esta peculiaridade de meu caráter e, quando me tornei adulto, fiz dela uma das minhas principais fontes de prazer. Aos que já sentiram afeto por um cão fiel e sagaz, não preciso dar-me ao trabalho de explicar a natureza ou a intensidade da satisfação que se pode ter com isso. Há algo, no amor desinteressado, e capaz de sacrifícios, de um animal, que toca diretamente o coração daqueles que tiveram ocasiões freqüentes de comprovar a amizade mesquinha e a frágil fidelidade de um simples homem.

Casei cedo, e tive a sorte de encontrar em minha mulher disposição semelhante à minha. Notando o meu amor pelos animais domésticos, não perdia a oportunidade de arranjar as espécies mais agradáveis de bichos. Tínhamos pássaros, peixes dourados, um cão, coelhos, um macaquinho e um gato.

Este último era um animal extraordinariamente grande e belo, todo negro e de espantosa sagacidade. Ao referir-se à sua inteligência, minha mulher, que, no íntimo de seu coração, era um tanto supersticiosa, fazia freqüentes alusões à antiga crença popular de que todos os gatos pretos são feiticeiras disfarçadas. Não que ela se referisse seriamente a isso: menciono o fato apenas porque aconteceu lembrar-me disso neste momento.

Pluto - assim se chamava o gato - era o meu preferido, com o qual eu mais me distraía. Só eu o alimentava, e ele me seguia sempre pela casa. Tinha dificuldade, mesmo, em impedir que me acompanhasse pela rua.

Nossa amizade durou, desse modo, vários anos, durante os quais não só o meu caráter como o meu temperamento -enrubesço ao confessá-lo - sofreram, devido ao demônio da intemperança, uma modificação radical para pior. Tornava-me, dia a dia, mais taciturno, mais irritadiço, mais indiferente aos sentimentos dos outros. Sofria ao empregar linguagem desabrida ao dirigir-me à minha mulher. No fim, cheguei mesmo a tratá-la com violência. Meus animais, certamente, sentiam a mudança operada em meu caráter. Não apenas não lhes dava atenção alguma, como, ainda, os maltratava. Quanto a Pluto, porém, ainda despertava em mim consideração suficiente que me impedia de maltratá-lo, ao passo que não sentia escrúpulo algum em maltratar os coelhos, o macaco e mesmo o cão, quando, por acaso ou afeto, cruzavam em meu caminho. Meu mal, porém, ia tomando conta de mim - que outro mal pode se comparar ao álcool? - e, no fim, até Pluto, que começava agora a envelhecer e, por conseguinte, se tornara um tanto rabugento, até mesmo Pluto começou a sentir os efeitos de meu mau humor.

Certa noite, ao voltar a casa, muito embriagado, de uma de minhas andanças pela cidade, tive a impressão de que o gato evitava a minha presença. Apanhei-o, e ele, assustado ante a minha violência, me feriu a mão, levemente, com os dentes. Uma fúria demoníaca apoderou-se, instantaneamente, de mim. Já não sabia mais o que estava fazendo.Dir-se-ia que, súbito, minha alma abandonara o corpo, e uma perversidade mais do que diabólica, causada pela genebra, fez vibrar todas as fibras de meu ser.Tirei do bolso um canivete, abri-o, agarrei o pobre animal pela garganta e, friamente, arranquei de sua órbita um dos olhos! Enrubesço, estremeço, abraso-me de vergonha, ao referir-me, aqui, a essa abominável atrocidade.

Quando, com a chegada da manhã, voltei à razão - dissipados já os vapores de minha orgia noturna -, experimentei, pelo crime que praticara, um sentimento que era um misto de horror e remorso; mas não passou de um sentimento superficial e equívoco, pois minha alma permaneceu impassível. Mergulhei novamente em excessos, afogando logo no vinho a lembrança do que acontecera.

Entrementes, o gato se restabeleceu, lentamente. A órbita do olho perdido apresentava, é certo, um aspecto horrendo, mas não parecia mais sofrer qualquer dor. Passeava pela casa como de costume, mas, como bem se poderia esperar, fugia, tomado de extremo terror, à minha aproximação. Restava-me ainda o bastante de meu antigo coração para que, a princípio, sofresse com aquela evidente aversão por parte de um animal que, antes, me amara tanto. Mas esse sentimento logo se transformou em irritação. E, então, como para perder-me final e irremissivelmente, surgiu o espírito da perversidade. Desse espírito, a filosofia não toma conhecimento. Não obstante, tão certo como existe minha alma, creio que a perversidade é um dos impulsos primitivos do coração humano - uma das faculdades, ou sentimentos primários, que dirigem o caráter do homem. Quem não se viu, centenas de vezes, a cometer ações vis ou estúpidas, pela única razão de que sabia que não devia cometê-las? Acaso não sentimos uma inclinação constante, mesmo quando estamos no melhor de nosso juízo, para violar aquilo que é lei, simplesmente porque a compreendemos como tal? Esse espírito de perversidade, digo eu, foi a causa de minha queda final. O vivo e insondável desejo da alma de atormentar-se a si mesma, de violentar sua própria natureza, de fazer o mal pelo próprio mal, foi o que me levou a continuar e, afinal, a levar a cabo o suplício que infligira ao inofensivo animal. Uma manhã, a sangue frio, meti-lhe um nó corredio em torno do pescoço e enforquei-o no galho de uma árvore. Fi-lo com os olhos cheios de lágrimas, com o coração transbordante do mais amargo remorso. Enforquei-o porque sabia que ele me amara, e porque reconhecia que não me dera motivo algum para que me voltasse contra ele. Enforquei-o porque sabia que estava cometendo um pecado - um pecado mortal que comprometia a minha alma imortal, afastando-a, se é que isso era possível, da misericórdia infinita de um Deus infinitamente misericordioso e infinitamente terrível.

Na noite do dia em que foi cometida essa ação tão cruel, fui despertado pelo grito de "fogo!". As cortinas de minha cama estavam em chamas. Toda a casa ardia. Foi com grande dificuldade que minha mulher, uma criada e eu conseguimos escapar do incêndio. A destruição foi completa. Todos os meus bens terrenos foram tragados pelo fogo,e, desde então, me entreguei ao desespero.

Não pretendo estabelecer relação alguma entre causa e efeito - entre o desastre e a atrocidade por mim cometida. Mas estou descrevendo uma seqüência de fatos, e não desejo omitir nenhum dos elos dessa cadeia de acontecimentos. No dia seguinte ao do incêndio, visitei as ruínas. As paredes, com exceção de uma apenas, tinham desmoronado. Essa única exceção era constituída por um fino tabique interior, situado no meio da casa, junto ao qual se achava a cabeceira de minha cama. O reboco havia, aí, em grande parte, resistido à ação do fogo - coisa que atribuí ao fato de ter sido ele construído recentemente. Densa multidão se reunira em torno dessa parede, e muita pessoas examinavam, com particular atenção e minuciosidade, uma parte dela. As palavras "estranho!", "singular!", bem como outras expressões semelhantes, despertaram-me a curiosidade. Aproximei-me e vi, como se gravada em baixo-relevo sobre a superfície branca, a figura de um gato gigantesco. A imagem era de uma exatidão verdadeiramente maravilhosa. Havia uma corda em torno do pescoço do animal.

Logo que vi tal aparição - pois não poderia considerar aquilo como sendo outra coisa -, o assombro e terror que se me apoderaram foram extremos. Mas, finalmente, a reflexão veio em meu auxílio.O gato, lembrei-me, fora enforcado num jardim existente junto à casa. Aos gritos de alarma, o jardim fora imediatamente invadido pela multidão. Alguém deve ter retirado o animal da árvore, lançando-o, através de uma janela aberta, para dentro do meu quarto. Isso foi feito, provavelmente, com a intenção de despertar-me. A queda das outras paredes havia comprimido a vítima de minha crueldade no gesso recentemente colocado sobre a parede que permanecera de pé. A cal do muro, com as chamas e o amoníaco desprendido da carcaça produzira a imagem tal qual eu agora a via.

Embora isso satisfizesse prontamente minha razão, não conseguia fazer o mesmo, de maneira completa, com minha consciência, pois o surpreendente fato que acabo de descrever não deixou de causar-me, apesar de tudo, profunda impressão. Durante meses, não pude livrar-me do fantasma do gato e, nesse espaço de tempo, nasceu em meu espírito uma espécie de sentimento que parecia remorso, embora não o fosse. Cheguei, mesmo, a lamentar a perda do animal e a procurar, nos sórdidos lugares que então freqüentava, outro bichano da mesma espécie e de aparência semelhante que pudesse substituí-lo.

Uma noite, em que me achava sentado, meio aturdido, num antro mais do que infame, tive a atenção despertada, subitamente, por um objeto negro que jazia no alto de um dos enormes barris, de genebra ou rum, que constituíam quase que o único mobiliário do recinto.Fazia já alguns minutos que olhava fixamente o alto do barril, e o que então me surpreendeu foi não ter visto antes o que havia sobre o mesmo. Aproximei-me e toquei-o com a mão. Era um gato preto, enorme - tão grande quanto Pluto - e que, sob todos os aspectos, salvo um, se assemelhava a ele. Pluto não tinha um único pêlo branco em todo o corpo - e o bichano que ali estava possuía uma mancha larga e branca, embora de forma indefinida, a cobrir-lhe quase toda a região do peito.

Ao acariciar-lhe o dorso, ergueu-se imediatamente, ronronando com força e esfregando-se em minha mão, como se a minha atenção lhe causasse prazer. Era, pois, o animal que eu procurava. Apressei-me em propor ao dono a sua aquisição, mas este não manifestou interesse algum pelo felino. Não o conhecia; jamais o vira antes.

Continuei a acariciá-lo e, quando me dispunha a voltar para casa, o animal demonstrou disposição de acompanhar-me. Permiti que o fizesse - detendo-me, de vez em quando, no caminho, para acariciá-lo. Ao chegar, sentiu-se imediatamente à vontade, como se pertencesse a casa, tornando-se logo, um dos bichanos preferidos de minha mulher.

De minha parte, passei a sentir logo aversão por ele. Acontecia, pois, justamente o contrário do que eu esperava.Mas a verdade é que - não sei como nem por quê - seu evidente amor por mim me desgostava e aborrecia. Lentamente, tais sentimentos de desgosto e fastio se converteram no mais amargo ódio. Evitava o animal. Uma sensação de vergonha, bem como a lembrança da crueldade que praticara, impediam-me de maltratá-lo fisicamente. Durante algumas semanas, não lhe bati nem pratiquei contra ele qualquer violência; mas, aos poucos - muito gradativamente -, passei a sentir por ele inenarrável horror, fugindo, em silêncio, de sua odiosa presença, como fugisse de uma peste.

Sem dúvida, o que aumentou o meu horror pelo animal foi a descoberta, na manhã do dia seguinte ao que o levei para casa, que, como Pluto, também havia sido privado de um do olhos. Tal circunstância, porém, apenas contribuiu para que minha mulher sentisse por ele maior carinho, pois, como já disse, era dotada, em alto grau, dessa ternura de sentimentos que constituíra, em outros tempos, um de meus traços principais, bem como fonte de muitos de meus prazeres mais simples e puros.

No entanto, a preferência que o animal demonstrava pela minha pessoa parecia aumentar em razão direta da aversão que sentia por ele. Seguia-me os passos com uma pertinácia que dificilmente poderia fazer com que o leitor compreendesse. Sempre que me sentava, enrodilhava-se embaixo de minha cadeira, ou me saltava ao colo, cobrindo-me com suas odiosas carícias. Se me levantava para andar, metia-se-me entre as pernas e quase me derrubava, ou então, cravando suas longas e afiadas garras em minha roupa, subia por ela até o meu peito. Nessas ocasiões, embora tivesse ímpetos de matá-lo de um golpe, abstinha-me de fazê-lo devido, em parte, à lembrança de meu crime anterior, mas, sobretudo - apresso-me a confessá-lo -, pelo pavor extremo que o animal me despertava.

Esse pavor não era exatamente um pavor de mal físico e, contudo, não saberia defini-lo de outra maneira. Quase me envergonha confessar - sim, mesmo nesta cela de criminoso -, quase me envergonha confessar que o terror e o pânico que o animal me inspirava eram aumentados por uma das mais puras fantasias que se possa imaginar. Minha mulher, mais de uma vez, me chamara a atenção para o aspecto da mancha branca a que já me referi,e que constituía a única diferença visível entre aquele estranho animal e o outro, que eu enforcara. O leitor, decerto, se lembrará de que aquele sinal, embora grande, tinha, a princípio, uma forma bastante indefinida. Mas, lentamente, de maneira quase imperceptível - que a minha imaginação, durante muito tempo, lutou por rejeitar como fantasiosa -, adquirira, por fim, uma nitidez rigorosa de contornos. Era, agora, a imagem de um objeto cuja menção me faz tremer... e, sobretudo por isso, eu o encarava como a um monstro de horror e repugnância, da qual eu, se tivesse coragem, me teria livrado. Era agora, confesso, a imagem de uma coisa odiosa, abominável: a imagem da forca! Oh, lúgubre e terrível máquina de horror e de crime, de agonia e de morte!

Na verdade, naquele momento eu era um miserável - um ser que ia além da própria miséria da humanidade. Era uma besta-fera, cujo irmão fora por mim desdenhosamente destruído... uma besta-fera que se engendrara em mim, insuportável infortúnio! Ai de mim! Nem de dia, nem de noite, conheceria jamais a bênção do descanso! Durante o dia, o animal não me deixava a sós um único momento; e, à noite, despertava de hora em hora, tomado do indescritível terror de sentir o hálito quente da coisa sobre o meu rosto, e o seu enorme peso - encarnação de um pesadelo que não podia afastar de mim - pousado eternamente sobre o meu coração!

Sob a pressão de tais tormentos, sucumbiu o pouco que restava em mim de bom. Pensamentos maus converteram-se em meus únicos companheiros - os mais sombrios e os mais perversos dos pensamentos. Minha rabugice habitual se transformou em ódio por todas as coisas e por toda a humanidade - e, enquanto eu, agora, me entregava cegamente a súbitos, freqüentes e irreprimíveis acesso de cólera, minha mulher - pobre dela! - não se queixava nunca, convertendo-se na mais paciente e sofredora das vítimas.

Um dia, acompanhou-me, para ajudar-me numa das tarefas domésticas, até o porão do velho edifício em que nossa pobreza nos obrigava a morar. O gato seguiu-nos e, quase fazendo-me rolar escada abaixo, me exasperou a ponto de perder o juízo. Apanhando uma machadinha e esquecendo o terror pueril que até então contivera minha mão, dirigi ao animal um golpe que teria sido mortal, se atingisse o alvo. Mas minha mulher segurou-me o braço, detendo o golpe. Tomado, então, de fúria demoníaca, livrei o braço do obstáculo que o detinha e cravei-lhe a machadinha no cérebro. Minha mulher caiu morta instantaneamente, sem lançar um gemido.

Realizado o terrível assassínio, procurei, movido por súbita resolução, esconder o corpo. Sabia que não poderia retirá-lo da casa, nem de dia nem de noite, sem correr o risco de ser visto pelos vizinhos. Ocorreram-me vários planos. Pensei, por um instante, em cortar o corpo em pequenos pedaços e destruí-los por meio do fogo. Resolvi, depois, cavar uma fossa no chão da adega. Em seguida, pensei em atirá-lo ao poço do quintal. Mudei de idéia e decidi mantê-lo num caixote, como se fosse uma mercadoria, na forma habitual, fazendo com que um carregador o retirasse da casa. Finalmente, tive uma idéia que me pareceu muito mais prática: resolvi emparedá-lo na adega, como faziam os monges da Idade Média com as suas vítimas.

Aquela adega se prestava muito bem para tal propósito. As paredes não haviam sido construídas com muito cuidado e, pouco antes, haviam sido cobertas, em toda a sua extensão, com um reboco que a umidade impedira de endurecer. Ademais, havia uma saliência numa das paredes, produzida por alguma chaminé ou lareira, que fora tapada para que se assemelhasse ao resto da adega. Não duvidei de que poderia facilmente retirar os tijolos naquele lugar, introduzir o corpo e recolocá-los do mesmo modo, sem que nenhum olhar pudesse descobrir nada que despertasse suspeita.

E não me enganei em meus cálculos. Por meio de uma alavanca, desloquei facilmente os tijolos e, tendo depositado ocorpo, com cuidado, de encontro à parede interior, segurei-o nesta posição, até poder recolocar, sem grande esforço, os tijolos em seu lugar, tal como estavam anteriormente. Arranjei cimento, cal e areia e, com toda a precaução possível, preparei uma argamassa que não se poderia distinguir da anterior, cobrindo com ela, escrupulosamente, a nova parede. Ao terminar, senti-me satisfeito, pois tudo correra bem. A parede não apresentava o menor sinal de ter sido rebocada. Limpei o chão com o maior cuidado e, lançando o olhar em torno, disse, de mim para comigo: "Pelo menos aqui, o meu trabalho não foi em vão".

O passo seguinte foi procurar o animal que havia sido a causa de tão grande desgraça, pois resolvera, finalmente, matá-lo. Se, naquele momento, tivesse podido encontrá-lo, não haveria dúvida quanto à sua sorte: mas parece que o esperto animal se alarmara ante aviolência de minha cólera, e procurava não aparecer diante de mim enquanto me encontrasse naquele estado de espírito. Impossível descrever ou imaginar o profundo e abençoado alívio que me causava a ausência de tão detestável felino. Não apareceu também durante a noite - e, assim, pela primeira vez, desde sua entrada em casa, consegui dormir tranqüilo e profundamente. Sim, dormi mesmo com o peso daquele assassínio sobre a minha alma.

Transcorreram o segundo e o terceiro dia- e o meu algoz não apareceu. Pude respirar, novamente, como homem livre. O monstro, aterrorizado fugira para sempre de casa. Não tornaria a vê-lo! Minha felicidade era infinita! A culpa de minha tenebrosa ação pouco me inquietava. Foram feitas algumas investigações, mas respondi prontamente a todas as perguntas. Procedeu-se, também, a uma vistoria em minha casa, mas, naturalmente, nada podia ser descoberto. Eu considerava já como coisa certa a minha felicidade futura.

No quarto dia após o assassinato, uma caravana policial chegou, inesperadamente, a casa, e realizou, de novo, rigorosa investigação. Seguro, no entanto, de que ninguém descobriria jamais o lugar em que eu ocultara o cadáver, não experimentei a menor perturbação. Os policiais pediram-me que os acompanhasse em sua busca. Não deixaram de esquadrinhar um canto sequer da casa. Por fim, pela terceira ou quarta vez, desceram novamente ao porão. Não me alterei o mínimo que fosse. Meu coração batia calmamente, como o de um inocente. Andei por todo o porão, de ponta aponta. Com os braços cruzados sobre o peito, caminhava, calmamente, de um lado para outro. A polícia estava inteiramente satisfeita e preparava-se para sair.O júbilo que me inundava o coração era forte demais para que pudesse contê-lo. Ardia de desejo de dizer uma palavra, uma única palavra, à guisa de triunfo, e também para tornar duplamente evidente a minha inocência.

- Senhores - disse, por fim, quando os policiais já subiam a escada -, é para mim motivo de grande satisfação haver desfeito qualquer suspeita. Desejo a todos os senhores ótima saúde e um pouco mais de cortesia. Diga-se de passagem, senhores, que esta é uma casa muito bem construída... (quase não sabia o que dizia, em meu insopitável desejo de falar com naturalidade) Poderia, mesmo, dizer que é uma casa excelentemente construída. Estas paredes - os senhores já se vão? -, estas paredes são de grande solidez.

Nessa altura, movido por pura e frenética fanfarronada, bati com força, com a bengala que tinha na mão, justamente na parte da parede atrás da qual se achava o corpo da esposa de meu coração.

Que Deus me guarde e livre das garras de Satanás! Mal o eco das batidas mergulhou no silêncio, uma voz me respondeu do fundo da tumba, primeiro com um choro entrecortado e abafado, como os soluços de uma criança; depois, de repente, com um grito prolongado, estridente, contínuo, completamente anormal e inumano. Um uivo, um grito agudo, metade de horror, metade de triunfo, como somente poderia ter surgido do inferno, da garganta dos condenados, em sua agonia, e dos demônios exultantes com a sua condenação.

Quanto aos meus pensamentos, é loucura falar. Sentindo-me desfalecer, cambaleei até a parede oposta. Durante uminstante, o grupo de policiais deteve-se na escada, imobilizado pelo terror. Decorrido um momento, doze braços vigorosos atacaram a parede, que caiu por terra. O cadáver, já em adiantado estado de decomposição, e coberto de sangue coagulado, apareceu, ereto, aos olhos dos presentes. Sobre sua cabeça,com a boca vermelha dilatada e o único olho chamejante, achava-se pousado o animal odioso, cuja astúcia me levou ao assassínio e cuja voz reveladora me entregava ao carrasco. Eu havia emparedado o monstro dentro da tumba!