quarta-feira, 26 de maio de 2010

o anel de vidro

deixo manuel bandeira então com vocês, com esta belíssima composição, sobre uma canção popular...

Aquele pequenino anel que tu me deste,
- Ai de mim - era vidro e logo se quebrou
Assim também o eterno amor que prometeste,
- Eterno! era bem pouco e cedo se acabou.

Frágil penhor que foi do amor que me tiveste,
Símbolo da afeição que o tempo aniquilou, -
Aquele pequenino anel que tu me deste,
- Ai de mim - era vidro e logo se quebrou


Não me turbou, porém, o despeito que investe
Gritando maldições contra aquilo que amou.
De ti conservo no peito a saudade celeste
Como também guardei o pó que me ficou
Daquele pequenino anel que tu me deste

manuel bandeira

O VILÃO

Boa noite pessoas.

Bom gostaria primeiro de pedir desculpas por não ter postado hoje, e aliás por ter poucos posts essa semana, bom há de se entender, semana tensa na facul, prova seminários e tals, ando meio sem tempo p selecionar boas coisas para poder postar aqui, enfim.
Aliás, peço desculpas também pos ser a primeira vez (depois de mais de três meses, quase cem posts publicados e surpreendentemente quase seis mil visualizações) que venho (em 1° pessoa) me comunicar com pessoas tão ilustres como vocês (meus adoráveis leitores).
Bom pedidas as devidas desculpas, gostaria de falar um pouco sobre o blog:

* Primeiramente, estou realmente surpreso: 1 pelo número de visualizações; 2  pelo número de seguidores; 3 pelo apoio que tenho recebido, tanto pessoalmente, qto pelos comentários, ou msm por msgs no orkut. 

valeu pessoas,  amo vcs.

* bom o carro chefe do blog, são mesmo os poemas, tento trazer aqui alguns clássicos, mas tb alguns menos conhecidos, para apreciação e conhecimento, visto que são verdadeiras obras literárias, e vitrines das belezas da língua, mas tb não podemos esquecer das pérolas, ai ai, essas coisas que nos inspiram, e divertem...  eventualmente em algun post mais longo (como este por ex.), trago tb alguns contos, p vcs apreciarem, e principalmente, refletirem, uma vez que são, além de histórias empolgantes, ferramentas para nos fazerem refletir sobre temas de relevância.
 Lembrando que o que me motiva a esse blog, é a lingua portuguesa em todos os seus aspectos (belezas), daí a diversidade de publicações( poemas, contos, pérolas, figuras e defeitos, humor etc.), bem como aa particularidades da comunicação em si (daí os quadrinhos, piadas, enfim).
 Eh, ainda tem mais coisas que eu queria dizer, mas cansei.............:(

Bom, se você chegou até aqui na leitura, fica com o meu mto obrigado pela atenção, e, espero que curta bastante o site,

Um pedido: já q vc leu ate aqui msm, e aconpanha os posts, então não custa comentar, afinal, é isso que alimenta um blog ( além dos posts em si, claro).   

atenciosamente:  O VILÃO

segunda-feira, 24 de maio de 2010

frase de carlos drummod de andrade

"Ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade."

"O amor é grande e cabe nesta janela sobre o mar. O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar. O amor é grande e cabe no breve espaço de beijar."

"Os homens distinguem-se pelo que fazem, as mulheres pelo que levam os homens a fazer."

"A minha vontade é forte, mas a minha disposição de obedecer-lhe é fraca."

"A amizade é um meio de nos isolarmos da humanidade cultivando algumas pessoas."

"Perder tempo em aprender coisas que não interessam, priva-nos de descobrir coisas interessantes."

sábado, 22 de maio de 2010

SEGREDO

A poesia é incomunicável.
Fique torto no seu canto.
Não ame.



Ouço dizer que há tiroteio
ao alcance do nosso corpo.
É a revolução? o amor?
Não diga nada.


Tudo é possível, só eu impossível.
O mar transborda de peixes.
Há homens que andam no mar
como se andassem na rua.
Não conte.


Suponha que um anjo de fogo
varresse a face da terra

e os homens sacrificados
pedissem perdão.
Não peça.




Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 20 de maio de 2010

a língua portuguesa sempre tão clara (não tenha dúvidas)

pediu tá pedido.

conto Amor Clarice Lispector

Um pouco cansada, com as compras deformando o novo saco de tricô, Ana subiu no bonde. Depositou o volume no colo e o bonde começou a andar. Recostou-se então no banco procurando conforto, num suspiro de meia satisfação.


Os filhos de Ana eram bons, uma coisa verdadeira e sumarenta. Cresciam, tomavam banho, exigiam para si, malcriados, instantes cada vez mais completos. A cozinha era enfim espaçosa, o fogão enguiçado dava estouros. O calor era forte no apartamento que estavam aos poucos pagando. Mas o vento batendo nas cortinas que ela mesma cortara lembrava-lhe que se quisesse podia parar e enxugar a testa, olhando o calmo horizonte. Como um lavrador. Ela plantara as sementes que tinha na mão, não outras, mas essas apenas. E cresciam árvores. Crescia sua rápida conversa com o cobrador de luz, crescia a água enchendo o tanque, cresciam seus filhos, crescia a mesa com comidas, o marido chegando com os jornais e sorrindo de fome, o canto importuno das empregadas do edifício. Ana dava a tudo, tranqüilamente, sua mão pequena e forte, sua corrente de vida.

Certa hora da tarde era mais perigosa. Certa hora da tarde as árvores que plantara riam dela. Quando nada mais precisava de sua força, inquietava-se. No entanto sentia-se mais sólida do que nunca, seu corpo engrossara um pouco e era de se ver o modo como cortava blusas para os meninos, a grande tesoura dando estalidos na fazenda. Todo o seu desejo vagamente artístico encaminhara-se há muito no sentido de tornar os dias realizados e belos; com o tempo, seu gosto pelo decorativo se desenvolvera e suplantara a íntima desordem. Parecia ter descoberto que tudo era passível de aperfeiçoamento, a cada coisa se emprestaria uma aparência harmoniosa; a vida podia ser feita pela mão do homem.

No fundo, Ana sempre tivera necessidade de sentir a raiz firme das coisas. E isso um lar perplexamente lhe dera. Por caminhos tortos, viera a cair num destino de mulher, com a surpresa de nele caber como se o tivesse inventado. O homem com quem casara era um homem verdadeiro, os filhos que tivera eram filhos verdadeiros. Sua juventude anterior parecia-lhe estranha como uma doença de vida. Dela havia aos poucos emergido para descobrir que também sem a felicidade se vivia: abolindo-a, encontrara uma legião de pessoas, antes invisíveis, que viviam como quem trabalha — com persistência, continuidade, alegria. O que sucedera a Ana antes de ter o lar estava para sempre fora de seu alcance: uma exaltação perturbada que tantas vezes se confundira com felicidade insuportável. Criara em troca algo enfim compreensível, uma vida de adulto. Assim ela o quisera e o escolhera.

Sua precaução reduzia-se a tomar cuidado na hora perigosa da tarde, quando a casa estava vazia sem precisar mais dela, o sol alto, cada membro da família distribuído nas suas funções. Olhando os móveis limpos, seu coração se apertava um pouco em espanto. Mas na sua vida não havia lugar para que sentisse ternura pelo seu espanto — ela o abafava com a mesma habilidade que as lides em casa lhe haviam transmitido. Saía então para fazer compras ou levar objetos para consertar, cuidando do lar e da família à revelia deles. Quando voltasse era o fim da tarde e as crianças vindas do colégio exigiam-na. Assim chegaria a noite, com sua tranqüila vibração. De manhã acordaria aureolada pelos calmos deveres. Encontrava os móveis de novo empoeirados e sujos, como se voltassem arrependidos. Quanto a ela mesma, fazia obscuramente parte das raízes negras e suaves do mundo. E alimentava anonimamente a vida. Estava bom assim. Assim ela o quisera e escolhera.

O bonde vacilava nos trilhos, entrava em ruas largas. Logo um vento mais úmido soprava anunciando, mais que o fim da tarde, o fim da hora instável. Ana respirou profundamente e uma grande aceitação deu a seu rosto um ar de mulher.

O bonde se arrastava, em seguida estacava. Até Humaitá tinha tempo de descansar. Foi então que olhou para o homem parado no ponto.

A diferença entre ele e os outros é que ele estava realmente parado. De pé, suas mãos se mantinham avançadas. Era um cego.

O que havia mais que fizesse Ana se aprumar em desconfiança? Alguma coisa intranqüila estava sucedendo. Então ela viu: o cego mascava chicles... Um homem cego mascava chicles.

Ana ainda teve tempo de pensar por um segundo que os irmãos viriam jantar — o coração batia-lhe violento, espaçado. Inclinada, olhava o cego profundamente, como se olha o que não nos vê. Ele mascava goma na escuridão. Sem sofrimento, com os olhos abertos. O movimento da mastigação fazia-o parecer sorrir e de repente deixar de sorrir, sorrir e deixar de sorrir — como se ele a tivesse insultado, Ana olhava-o. E quem a visse teria a impressão de uma mulher com ódio. Mas continuava a olhá-lo, cada vez mais inclinada — o bonde deu uma arrancada súbita jogando-a desprevenida para trás, o pesado saco de tricô despencou-se do colo, ruiu no chão — Ana deu um grito, o condutor deu ordem de parada antes de saber do que se tratava — o bonde estacou, os passageiros olharam assustados.

Incapaz de se mover para apanhar suas compras, Ana se aprumava pálida. Uma expressão de rosto, há muito não usada, ressurgia-lhe com dificuldade, ainda incerta, incompreensível. O moleque dos jornais ria entregando-lhe o volume. Mas os ovos se haviam quebrado no embrulho de jornal. Gemas amarelas e viscosas pingavam entre os fios da rede. O cego interrompera a mastigação e avançava as mãos inseguras, tentando inutilmente pegar o que acontecia. O embrulho dos ovos foi jogado fora da rede e, entre os sorrisos dos passageiros e o sinal do condutor, o bonde deu a nova arrancada de partida.

Poucos instantes depois já não a olhavam mais. O bonde se sacudia nos trilhos e o cego mascando goma ficara atrás para sempre. Mas o mal estava feito.

A rede de tricô era áspera entre os dedos, não íntima como quando a tricotara. A rede perdera o sentido e estar num bonde era um fio partido; não sabia o que fazer com as compras no colo. E como uma estranha música, o mundo recomeçava ao redor. O mal estava feito. Por quê? Teria esquecido de que havia cegos? A piedade a sufocava, Ana respirava pesadamente. Mesmo as coisas que existiam antes do acontecimento estavam agora de sobreaviso, tinham um ar mais hostil, perecível... O mundo se tornara de novo um mal-estar. Vários anos ruíam, as gemas amarelas escorriam. Expulsa de seus próprios dias, parecia-lhe que as pessoas da rua eram periclitantes, que se mantinham por um mínimo equilíbrio à tona da escuridão — e por um momento a falta de sentido deixava-as tão livres que elas não sabiam para onde ir. Perceber uma ausência de lei foi tão súbito que Ana se agarrou ao banco da frente, como se pudesse cair do bonde, como se as coisas pudessem ser revertidas com a mesma calma com que não o eram.

O que chamava de crise viera afinal. E sua marca era o prazer intenso com que olhava agora as coisas, sofrendo espantada. O calor se tornara mais abafado, tudo tinha ganho uma força e vozes mais altas. Na Rua Voluntários da Pátria parecia prestes a rebentar uma revolução, as grades dos esgotos estavam secas, o ar empoeirado. Um cego mascando chicles mergulhara o mundo em escura sofreguidão. Em cada pessoa forte havia a ausência de piedade pelo cego e as pessoas assustavam-na com o vigor que possuíam. Junto dela havia uma senhora de azul, com um rosto. Desviou o olhar, depressa. Na calçada, uma mulher deu um empurrão no filho! Dois namorados entrelaçavam os dedos sorrindo... E o cego? Ana caíra numa bondade extremamente dolorosa.

Ela apaziguara tão bem a vida, cuidara tanto para que esta não explodisse. Mantinha tudo em serena compreensão, separava uma pessoa das outras, as roupas eram claramente feitas para serem usadas e podia-se escolher pelo jornal o filme da noite - tudo feito de modo a que um dia se seguisse ao outro. E um cego mascando goma despedaçava tudo isso. E através da piedade aparecia a Ana uma vida cheia de náusea doce, até a boca.

Só então percebeu que há muito passara do seu ponto de descida. Na fraqueza em que estava, tudo a atingia com um susto; desceu do bonde com pernas débeis, olhou em torno de si, segurando a rede suja de ovo. Por um momento não conseguia orientar-se. Parecia ter saltado no meio da noite.

Era uma rua comprida, com muros altos, amarelos. Seu coração batia de medo, ela procurava inutilmente reconhecer os arredores, enquanto a vida que descobrira continuava a pulsar e um vento mais morno e mais misterioso rodeava-lhe o rosto. Ficou parada olhando o muro. Enfim pôde localizar-se. Andando um pouco mais ao longo de uma sebe, atravessou os portões do Jardim Botânico.

Andava pesadamente pela alameda central, entre os coqueiros. Não havia ninguém no Jardim. Depositou os embrulhos na terra, sentou-se no banco de um atalho e ali ficou muito tempo.

A vastidão parecia acalmá-la, o silêncio regulava sua respiração. Ela adormecia dentro de si.

De longe via a aléia onde a tarde era clara e redonda. Mas a penumbra dos ramos cobria o atalho.

Ao seu redor havia ruídos serenos, cheiro de árvores, pequenas surpresas entre os cipós. Todo o Jardim triturado pelos instantes já mais apressados da tarde. De onde vinha o meio sonho pelo qual estava rodeada? Como por um zunido de abelhas e aves. Tudo era estranho, suave demais, grande demais.

Um movimento leve e íntimo a sobressaltou — voltou-se rápida. Nada parecia se ter movido. Mas na aléia central estava imóvel um poderoso gato. Seus pêlos eram macios. Em novo andar silencioso, desapareceu.

Inquieta, olhou em torno. Os ramos se balançavam, as sombras vacilavam no chão. Um pardal ciscava na terra. E de repente, com mal-estar, pareceu-lhe ter caído numa emboscada. Fazia-se no Jardim um trabalho secreto do qual ela começava a se aperceber.

Nas árvores as frutas eram pretas, doces como mel. Havia no chão caroços secos cheios de circunvoluções, como pequenos cérebros apodrecidos. O banco estava manchado de sucos roxos. Com suavidade intensa rumorejavam as águas. No tronco da árvore pregavam-se as luxuosas patas de uma aranha. A crueza do mundo era tranqüila. O assassinato era profundo. E a morte não era o que pensávamos.

Ao mesmo tempo que imaginário — era um mundo de se comer com os dentes, um mundo de volumosas dálias e tulipas. Os troncos eram percorridos por parasitas folhudas, o abraço era macio, colado. Como a repulsa que precedesse uma entrega — era fascinante, a mulher tinha nojo, e era fascinante.

As árvores estavam carregadas, o mundo era tão rico que apodrecia. Quando Ana pensou que havia crianças e homens grandes com fome, a náusea subiu-lhe à garganta, como se ela estivesse grávida e abandonada. A moral do Jardim era outra. Agora que o cego a guiara até ele, estremecia nos primeiros passos de um mundo faiscante, sombrio, onde vitórias-régias boiavam monstruosas. As pequenas flores espalhadas na relva não lhe pareciam amarelas ou rosadas, mas cor de mau ouro e escarlates. A decomposição era profunda, perfumada... Mas todas as pesadas coisas, ela via com a cabeça rodeada por um enxame de insetos enviados pela vida mais fina do mundo. A brisa se insinuava entre as flores. Ana mais adivinhava que sentia o seu cheiro adocicado... O Jardim era tão bonito que ela teve medo do Inferno.

Era quase noite agora e tudo parecia cheio, pesado, um esquilo voou na sombra. Sob os pés a terra estava fofa, Ana aspirava-a com delícia. Era fascinante, e ela sentia nojo.

Mas quando se lembrou das crianças, diante das quais se tornara culpada, ergueu-se com uma exclamação de dor. Agarrou o embrulho, avançou pelo atalho obscuro, atingiu a alameda. Quase corria — e via o Jardim em torno de si, com sua impersonalidade soberba. Sacudiu os portões fechados, sacudia-os segurando a madeira áspera. O vigia apareceu espantado de não a ter visto.

Enquanto não chegou à porta do edifício, parecia à beira de um desastre. Correu com a rede até o elevador, sua alma batia-lhe no peito — o que sucedia? A piedade pelo cego era tão violenta como uma ânsia, mas o mundo lhe parecia seu, sujo, perecível, seu. Abriu a porta de casa. A sala era grande, quadrada, as maçanetas brilhavam limpas, os vidros da janela brilhavam, a lâmpada brilhava — que nova terra era essa? E por um instante a vida sadia que levara até agora pareceu-lhe um modo moralmente louco de viver. O menino que se aproximou correndo era um ser de pernas compridas e rosto igual ao seu, que corria e a abraçava. Apertou-o com força, com espanto. Protegia-se tremula. Porque a vida era periclitante. Ela amava o mundo, amava o que fora criado — amava com nojo. Do mesmo modo como sempre fora fascinada pelas ostras, com aquele vago sentimento de asco que a aproximação da verdade lhe provocava, avisando-a. Abraçou o filho, quase a ponto de machucá-lo. Como se soubesse de um mal — o cego ou o belo Jardim Botânico? — agarrava-se a ele, a quem queria acima de tudo. Fora atingida pelo demônio da fé. A vida é horrível, disse-lhe baixo, faminta. O que faria se seguisse o chamado do cego? Iria sozinha... Havia lugares pobres e ricos que precisavam dela. Ela precisava deles... Tenho medo, disse. Sentia as costelas delicadas da criança entre os braços, ouviu o seu choro assustado. Mamãe, chamou o menino. Afastou-o, olhou aquele rosto, seu coração crispou-se. Não deixe mamãe te esquecer, disse-lhe. A criança mal sentiu o abraço se afrouxar, escapou e correu até a porta do quarto, de onde olhou-a mais segura. Era o pior olhar que jamais recebera. Q sangue subiu-lhe ao rosto, esquentando-o.

Deixou-se cair numa cadeira com os dedos ainda presos na rede. De que tinha vergonha?

Não havia como fugir. Os dias que ela forjara haviam-se rompido na crosta e a água escapava. Estava diante da ostra. E não havia como não olhá-la. De que tinha vergonha? É que já não era mais piedade, não era só piedade: seu coração se enchera com a pior vontade de viver.

Já não sabia se estava do lado do cego ou das espessas plantas. O homem pouco a pouco se distanciara e em tortura ela parecia ter passado para o lados que lhe haviam ferido os olhos. O Jardim Botânico, tranqüilo e alto, lhe revelava. Com horror descobria que pertencia à parte forte do mundo — e que nome se deveria dar a sua misericórdia violenta? Seria obrigada a beijar um leproso, pois nunca seria apenas sua irmã. Um cego me levou ao pior de mim mesma, pensou espantada. Sentia-se banida porque nenhum pobre beberia água nas suas mãos ardentes. Ah! era mais fácil ser um santo que uma pessoa! Por Deus, pois não fora verdadeira a piedade que sondara no seu coração as águas mais profundas? Mas era uma piedade de leão.

Humilhada, sabia que o cego preferiria um amor mais pobre. E, estremecendo, também sabia por quê. A vida do Jardim Botânico chamava-a como um lobisomem é chamado pelo luar. Oh! mas ela amava o cego! pensou com os olhos molhados. No entanto não era com este sentimento que se iria a uma igreja. Estou com medo, disse sozinha na sala. Levantou-se e foi para a cozinha ajudar a empregada a preparar o jantar.

Mas a vida arrepiava-a, como um frio. Ouvia o sino da escola, longe e constante. O pequeno horror da poeira ligando em fios a parte inferior do fogão, onde descobriu a pequena aranha. Carregando a jarra para mudar a água - havia o horror da flor se entregando lânguida e asquerosa às suas mãos. O mesmo trabalho secreto se fazia ali na cozinha. Perto da lata de lixo, esmagou com o pé a formiga. O pequeno assassinato da formiga. O mínimo corpo tremia. As gotas d'água caíam na água parada do tanque. Os besouros de verão. O horror dos besouros inexpressivos. Ao redor havia uma vida silenciosa, lenta, insistente. Horror, horror. Andava de um lado para outro na cozinha, cortando os bifes, mexendo o creme. Em torno da cabeça, em ronda, em torno da luz, os mosquitos de uma noite cálida. Uma noite em que a piedade era tão crua como o amor ruim. Entre os dois seios escorria o suor. A fé a quebrantava, o calor do forno ardia nos seus olhos.

Depois o marido veio, vieram os irmãos e suas mulheres, vieram os filhos dos irmãos.

Jantaram com as janelas todas abertas, no nono andar. Um avião estremecia, ameaçando no calor do céu. Apesar de ter usado poucos ovos, o jantar estava bom. Também suas crianças ficaram acordadas, brincando no tapete com as outras. Era verão, seria inútil obrigá-las a dormir. Ana estava um pouco pálida e ria suavemente com os outros. Depois do jantar, enfim, a primeira brisa mais fresca entrou pelas janelas. Eles rodeavam a mesa, a família. Cansados do dia, felizes em não discordar, tão dispostos a não ver defeitos. Riam-se de tudo, com o coração bom e humano. As crianças cresciam admiravelmente em torno deles. E como a uma borboleta, Ana prendeu o instante entre os dedos antes que ele nunca mais fosse seu.

Depois, quando todos foram embora e as crianças já estavam deitadas, ela era uma mulher bruta que olhava pela janela. A cidade estava adormecida e quente. O que o cego desencadeara caberia nos seus dias? Quantos anos levaria até envelhecer de novo? Qualquer movimento seu e pisaria numa das crianças. Mas com uma maldade de amante, parecia aceitar que da flor saísse o mosquito, que as vitórias-régias boiassem no escuro do lago. O cego pendia entre os frutos do Jardim Botânico.

Se fora um estouro do fogão, o fogo já teria pegado em toda a casa! pensou correndo para a cozinha e deparando com o seu marido diante do café derramado.

— O que foi?! gritou vibrando toda.

Ele se assustou com o medo da mulher. E de repente riu entendendo:

— Não foi nada, disse, sou um desajeitado. Ele parecia cansado, com olheiras.

Mas diante do estranho rosto de Ana, espiou-a com maior atenção. Depois atraiu-a a si, em rápido afago.

— Não quero que lhe aconteça nada, nunca! disse ela.

— Deixe que pelo menos me aconteça o fogão dar um estouro, respondeu ele sorrindo.

Ela continuou sem força nos seus braços. Hoje de tarde alguma coisa tranqüila se rebentara, e na casa toda havia um tom humorístico, triste. É hora de dormir, disse ele, é tarde. Num gesto que não era seu, mas que pareceu natural, segurou a mão da mulher, levando-a consigo sem olhar para trás, afastando-a do perigo de viver.

Acabara-se a vertigem de bondade.

E, se atravessara o amor e o seu inferno, penteava-se agora diante do espelho, por um instante sem nenhum mundo no coração. Antes de se deitar, como se apagasse uma vela, soprou a pequena flama do dia.





Texto extraído no livro “Laços de Família”, Editora Rocco – Rio de Janeiro, 1998, pág. 19, incluído entre “Os cem melhores contos brasileiros do século”, Editora Objetiva – Rio de Janeiro, 2000, seleção de Ítalo Moriconi.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

RETRATO

"Eu não tinha este rosto de hoje,
 assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
 nem o lábio amargo.


Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;

eu não tinha este coração
que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
Em que espelho ficou perdida
a minha face?"






Cecília Meireles

terça-feira, 18 de maio de 2010

POEMA SÓ PARA JAIME OVALLE

MANUEL BANDEIRA

Quando hoje acordei, ainda fazia escuro
(Embora a manhã já estivesse avançada).
Chovia.
Chovia uma triste chuva de resignação
Como contraste e consolo ao calor tempestuoso da noite.
Então me levantei,
Bebi o café que eu mesmo preparei,
Depois me deitei novamente, acendi um cigarro e fiquei pensando...
- Humildemente pensando na vida e nas mulheres que amei.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

mais algumas pérolas para vocês

1°) MATEMÁTICA (a equação tá difícil táaaa)

2°) HISTÓRIA (humm tem certeza que vc sabe o que é uma biblioteca?)
3°)LITERATURA (e eu estudando para ser professor, aff³)



4°)GEOGRAFIA (muito bem explicado)


5°)BIOLOGIA (e qual é a função de um professor msm?)





sábado, 15 de maio de 2010

dicionário básico

Dicionário Básico da língua brasileira portuguesa.

*Expedidor: mendigo que mudou de classe social;


*Luz solar: sapato que emite luz por baixo; (eu quero um desses)

*Cleptomaníaco: mania por Eric Clapton; (disso eu não sofro)

*Tripulante: especialista em salto triplo; (já vi um desses na tv)

*Viaduto: local onde circulam homossexuais;

*Contribuir: ir para algum lugar com vários índios;

*Aspirado: carta do baralho completamente maluca

*Testículo: texto pequeno; (já saiu uma pérola dessas lá na faculdade)

*Coitado: pessoa vitima de coito; (conheço pessoas que adorariam ser "coitadas")

*Cerveja: é o sonho de toda revista;


*Regime militar: rotina de dieta e exercícios feitos pelo exercito;

*Bimestre: mestre em duas artes marciais

*Caçador: individuo que procura sentir dor; (seria algum tipo de masoquista?)

*Suburbano: habitante dos túneis do metro;

*Volátil: avisar ao tio que você vai la; (o contrário seria vem cá sobrinho, não é msm?)

*Assaltante: um "A" que salta

*Determine: prender a namorada do Mickey mouse


*Pornográfico: o mesmo que colocar no desenho (você lembra das cacofonias né?)

*Coordenada: que não tem coor; (seria tipo "Xiita é a maacaca do Taarzan")

*Presidiário: aquele que é preso diariamente;

*Violentamente: viu com lentidão (câmera lenta);

*Diabetes: as dançarinas do diabo; (ri muito nessa)

*Presupor: colocar preço em alguma coisa;

*Biscoito: Fazer sexo duas vezes; (também conheço pessoas que adorariam conseguir isso)

*Missão: culto religioso com mais de três horas de duração; (conheço cultos assim tb)


*Padrão: Padre muito alto;


*Estouro: boi que sofreu operação de mudança de sexo; (hummm)


*Democracia: Sistema de governo do inferno; (sabe que às vezes eu até concordo com isso?)


*Barracão: proíbe a entrada de caninos;


*Ministério: aparelho de som de dimensões muito reduzidas;


*Edifício: antônimo de "é fácil";


*Desviado: uma dezena de homossexuais;


*Detergente: ato de prender seres humanos;


*Armarinho: vento proveniente do mar;


*Eficiência: estudo das propriedades da letra F; (tá parecendo as pérolas do enem)


*Entreguei: estar cercado de homossexuais;


*Conversão: papo prolongado; (papo de namorado)


*Barganhar: receber um botequim de herança; (até que seria uma boa)

*Fluxograma: direção em que cresce o capim; (quanta criatividade)


*Unção: erro de concordância verbal. O correto seria "um é" ; ( aff essa foi forte)


copiei mesmo, e não adianta reclamar...

sexta-feira, 14 de maio de 2010

A poesia de um louco



Era uma noite ,o sol brilhava no horizonte montanhoso.

Estava eu andando parado,sentado de pé numa pedra de pau,

com os olhos arregalados quase fechando,quando não muito longe dali havia um bosque sem árvores.

Os passarinhos pastavam alegremente enquanto as vacas cantavam pulando de galho em galho a procura de seus ninhos e

os elefantes descansavam à sombra de um pé de alface.

Resolvi voltar de pressa vagarosamente pra casa.

Chegando pela porta da frente que ficava nos fundos.

No quarto deitei meu paletó na cama e me pendurei no cabide.

passei a noite em claro,pois esqueci de apagar as luzes.

Sonhei que estava acordado ,quando acordei sonhei que estava dormindo.

Levantei-me e fui ao banheiro,onde resolvi almoçar,logo

senti um gosto horrível na boca .havia comido o guardanapo e limpado a boca com o bife.

Fui então até o jardim e lá eu encontrei um papel em branco,

que estava escrito: assim diziam aqueles nove profetas

que eram três,jacó e pedro.

"O mundo é mesmo uma bola quadrada,diante disso prefiro a morte doque morrer".Era uma noite ,o sol brilhava no horizonte montanhoso.
 
desconhecido

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Ouvido Masculino (Carlos Drummond de Andrade)

Muitas vezes se ouve dizer que as mulheres falam demais... Mas não tem problema. Porque o ouvido
masculino (seletivo) escuta somente o que interessa....
Preste atenção O que a mulher diz :


- Esse lugar está uma bagunça, amor !
Você e eu precisamos limpar isto.
Suas coisas estão jogadas no chão
e você vai ficar sem roupas
pra usar se não lavá-las agora mesmo.


O que o homem escuta :
- Blah, blah, blah, blah, AMOR,
blah, blah, blah, blah, VOCÊ E EU,
blah, blah, blah, blah, NO CHÃO,
blah, blah, blah, blah, SEM ROUPAS,
blah, blah, blah, blah, AGORA MESMO.


Percebem a diferença ?

quarta-feira, 12 de maio de 2010

piadinhas de mineiro (02)

"aqui vai o segundo post da série"
TREM CAIPIRA


Uma mulher esperava o trem, quando sentiu vontade de ir ao banheiro. Foi....
Quando voltou, o trem tinha partido. Ela começou a chorar.
Nesse momento, chegou um mineiro e perguntou:
- Purcaus diquê a sinhora tá chorano?
- fui urinar e o trem partiu....
- Uai, dona! caus dissu num chorá não...tenho certeza qui a sinhora nasceu com esse trem partido...



CUNVERSA DE MINEIRIM




- Cumpadi, muié é bicho estranho, num é mêsss???
- Num gosta di pescá....
- Num gosta di futebor...
- Num sabi contá piada...
- Num toma umas pinguinha....
- Óia, cumpadi....si num tivesse xoxota, nem cumprimentava.



MUIÉ MINEIRA


Os dois cumpadres pitavam o cigarrim de paia. Um pergunta:
- cumé que chama aquela coisa que as muié tem (faz um sinal com as duas mãos), quentim, cabeludim, que a gente gosta, é vermeia e que come terra?
- Uai...quentim... vermeia..? A gente gosta? Uái sô, só pode ser xoxota. Mas num sabia que comia terra, sô!!
- Pois come. Só di mim, cumeu treis fazenda.



este é mais um post da 1º série especial de piadinhas infames;
 aguarde o próximo.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Poética

De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.


A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.

Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem


Nasço amanhã
Ando onde há espaço:

– Meu tempo é quando.


Vinícius de Moraes

carta de um louco para um maluco

"talvez nem tanto assim" 

Era meia-noite, o sol brilhava entre as trevas de um dia claro e bonito.

Um homem vestido sem roupas com as mãos nos bolsos, estava sentado em pé, numa pedra de pau, a beira de um rio seco, ele dizia:

- Prefiro morrer do que perder a vida!

Naquele momento, logo depois, um mudo disse a um surdo que estava entrigado pois um cego não parava de olhar para ele, enquanto o surdo estava ouvindo o mudo falar, um alejado corria atrás de um carro parado.

Bem longe daqui, porém muito perto, um senhor alto, moreno, careca, mas muito baixo, penteava cortando seus longos cabelos loiros.

A noite, durante o sono, senti uma apetitosa falta de comer um prato sem alimentos, também vi peixes nadando na grama verde, tartarugas pulando de galho em galho, enquanto os bois nadavam num lago seco.

Enquanto outros suicidavam-se para viver, veio então um sujeito comendo guardanapo e limpando a boca com um pedaço de bife, assim ele começou a declarar uma poesia, porém calado dizia:

'Mais vale um vivo morto, que um morto vivo'.

Quando acordei com um despertador latindo, deitado no relógio, me preparei para mais um dia de descanço, porém com muito trabalho...

Fonte: Autor desconhecido

piadinha de mineiro (01)

Olá pessoal td bem?

Bom, vou inaugurar hoje  hoje aqui no blog a 1º série especial de piadinhas infames ,pra vocês, só pra descontrair...

Nessa primeira série, PIADAS DE MINEIRO:

boa leitura...


NUDEZ MINEIRA




Dois cumpadre tavam sossegadim fumando cigarrim de paia.

Conversa vai, conversa vem, um deles pergunta:

- Cumpadre, u quê quiocê acha desse negóço de nudez?

- Acho bão, sô!

O outro ficou pensativo...e perguntou de novo:

- Ocê acha bão purcaus diquê?

- Uai sô! É mió nudês do que nunosso, he he he he............


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SUTILEZA MINEIRA




O cumpadi, há muito tempo de olho na cumadi, aproveitô a ausência do cumpadi e resolveu fazer uma visitinha...

Chegando, os dois sem jeito, não acostumados ficar sós....falaram sobre o tempo....

- Será qui chove?

- Pois é.....

Ficô um silêncio.....

Aí, o cumpadi se enche de corage e quebrá o gelo:

- Cumadi....qui qui ocê acha: trepemo ou tomemo um café?

- Ah, cumpadi...cê mi pegô sem pó.....

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bom agora que vocês já riram um pouco (ou não), é so esperar o próximo post da série ok?

atenciosamente:

o vilão

Infância

Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
Minha mãe ficava sentada cosendo.
Meu irmão pequeno dormia.
Eu sozinho menino entre mangueiras.
lia a história de Robinson Crusoé,
comprida história que não acaba mais.

No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu
a ninar nos longes da senzala - nunca se esqueceu
chamava para o café.
Café preto que nem a preta velha
café gostoso
café bom.

Minha mãe ficava sentada cosendo
olhando para mim:
- Psiu...Não acorde o menino.
Para o berço onde pousou um mosquito.
E dava um suspiro...que fundo!

Lá longe meu pai campeava
no mato sem fim da fazenda.

E eu não sabia que minha história
era mais bonita que a de Robinson Crusoé.


Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 6 de maio de 2010

MAIS EXEMPLOS DE PARANOMÁSIA

não confundir hem:

"cebola e alhos vs seu belos olhos".

ou
"injessão de novalgina na veia vs injessão na vagina da véia".

bom por hora é isso, espero receber mais exemplos aqui.

EXEMPLOS DE PARANOMÁSIA

"Com tais premissas ele sem dúvida leva-nos às primícias" (Padre António Vieira)

"Exportar é o que importa"' (Delfim Netto)

"Com os preços praticados em planos de saúde, uma simples fatura em decorrência de uma fratura pode acabar com a nossa fartura" (Max Nunes)
George Gamov, ao conceber um trabalho sobre Cosmogonia, junto a Ralph Alpher, intitulou Teoria Alpher-Bethe-Gamov. Gamov adicionou o nome de Hans Bethe (que não participara da concepção do trabalho) para fazer um trocadilho com as três primeiras letras do alfabeto grego, alfa, beta e gama.

''As têmporas da maçã, as têmporas da hortelã, as têmporas da romã, as têmporas do tempo, o tempo temporã. (Murilo Mendes)

''Melancolias, mercadorias espreitam-me. (Carlos Drummond de Andrade)
''Outros exemplos incluem provérbios ("quem casa, quer casa") e expressões de uso corrente, como "traduttore, traditori" ("tradutor, traidor"). O termo é ainda usado para designar a semelhança entre duas palavras, de línguas diferentes, mas com a mesma etimologia.



"Berro pelo aterro pelo desterro
berro por seu berro pelo seu erro
quero que você ganhe que você me apanhe
sou o seu bezerro gritando mamãe."

— Caetano Veloso

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OUTROS EXEMPLOS:

- Foi feito o corte para manter a corte

VOCÂ SABE O QUE É PARANOMÁSIA?

Paranomásia ou paronomásia (ou Annonimatio) uma figura estilística que consiste no emprego de palavras parônimas (com sonoridade semelhante) numa mesma frase, fenômeno que é popularmente conhecido como trocadilho.

Os trocadilhos constituem um dos recursos retóricos mais utilizados em discursos humorísticos e publicitários. Resulta sempre da semelhança fonética ou sintática de dois enunciados cuja conjunção, comparação ou subentendido (enunciado elíptico, não referido directamente) cria um efeito inesperado, intencional ou não, aproveitando a sonoridade similar e o efeito de surpresa sobre o ouvinte ou o leitor da junção de significados díspares num mesmo contexto. Os trocadilhos mais frequentes são cacofonias em que uma determinada palavra é pronunciada de forma a parecer outra, geralmente com intenção humorística, maliciosa, obscena e/ou grosseira.


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OUTRA DEFINIÇÃO:


Classe gramatical de paranomásia: Substantivo feminino
Separação das sílabas de paranomásia: pa-ra-no-má-si-a
Plural de paranomásia: paranomásias
Possui 11 letras
Possui as vogais: a i o
Possui as consoantes: m n p r s
Paranomásia escrita ao contrário: aisámonarap

Rimas com paranomásia
eutanásia
amásia
paronomásia
antonomásia
metonomásia
cacotanásia
distanásia
acalásia
atanásia
lásia
alocásia
aspásia
parnásia
colocásia
exergásia
selásia
eufrásia
apostásia

FONTES:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Paranom%C3%A1sia

http://www.dicio.com.br/paranomasia/

Um Apólogo

Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:



— Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma cousa neste mundo?



— Deixe-me, senhora.



— Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça.



— Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos outros.



— Mas você é orgulhosa.



— Decerto que sou.



— Mas por quê?



— É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os cose, senão eu?



— Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora que quem os cose sou eu e muito eu?



— Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou feição aos babados...



— Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando por você, que vem atrás obedecendo ao que eu faço e mando...



— Também os batedores vão adiante do imperador.



— Você é imperador?



— Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto...



Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa. Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, enfiou a linha na agulha, e entrou a coser. Uma e outra iam andando orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana — para dar a isto uma cor poética. E dizia a agulha:



— Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo e acima...



A linha não respondia; ia andando. Buraco aberto pela agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa, como quem sabe o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha, vendo que ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-plic-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a costura, para o dia seguinte. Continuou ainda nessa e no outro, até que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile.



Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da bela dama, e puxava de um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, alisando, abotoando, acolchetando, a linha para mofar da agulha, perguntou-lhe:



— Ora, agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas? Vamos, diga lá.



Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha:



— Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, fico.



Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça:



— Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária!


machado de assis

O MITO

Sequer conheço fulana,

Vejo fulana tão curto
Fulana jamais me vê,
Mas como amo fulana.


Amarei mesmo fulana?
Ou é ilusão de sexo?
Talvez a linha do busto,
Da perna, talvez o ombro.
Amo fulana tão forte,
Amo fulana tão dor,
Que todo me despedaço
E choro,menino, choro


Mas fulana vai se rindo...
Vejam fulana dançando
No esporte ele está sozinha
No bar, quão acompanhada.


E fulana diz mistérios,
Diz marxismo, rimmel, gás.
Fulana me bombardeia,

No entanto sequer me vê.


E sequer nos compreendemos,
É dama de alta fidúcia,
Tem latifúndios, iates,
Sustenta cinco mil pobres,


Menos eu...que de orgulhoso
Me basto pensando nela
Pensando com unha, plasma,
Fúria, gilete, desânimo.


Amor tão disparatado,
Desbaratado é que é...
Nunca a sentei no meu colo

Nem vi pela fechadura.


Mas sei quanto me custa
Manter esse gelo digno,
Essa indiferença gaia, e não gritar:vem, fulana!


Como deixar de invadir
Sua casa de mil fechos
E sua veste arrancando
Mostrá-la depois ao povo


Tal como deve ser:
Branca, intata, neutra, rara,
Feita de pedera translúcida,
De ausência e ruivos ornatos.


Mas como será fulana,
Digamos, no seu banheiro?
Só de pensar em seu corpo,
O meu se punge...pois sim.


Porque preciso do corpo
Para mendigar fulana,
Rogar-lhe que pise em mim,
Que me maltrate...assim não.


Mas fulana será gente?
Estará somente em ópera?
Será figura de livros?
Será bicho? saberei?


Não saberei? só pegando,
Pedindo: dona, desculpe,
O seu vestido, esconde algo?
Tem coxas reais? cintura?


Fulana às vêzes existe
Demais: até me apavora.
Vou sozinho pela rua,
Eis que fulana me roça.


Mas não quero nada disso.
Para que chatear fulana?
Pancada na sua nuca
Na minha que vai doer.


E daí não sou criança
Fulana estudo meu rosto
Coitado: de raça branca
Tadinho: tinha gravata


Já morto, me quererá?
Esconjuro, se é necrófila...
Fulana é vida, ama as flores,
As artérias e as debêntures.


Sei que jamais me perdoara
Matar-me para servi-la.

Fulana quer homens fortes
Couraçados, invasores.
Fulana é tão dinâmica
Tem um motor na barriga.
Suas unhas são elétricas,
Seus beijos refrigerados,


Desinfetados, gravados
Em máquina multilite.
Fulana, como é sadia!
Os enfermos somos nós.


Sou eu, o poeta precário
Que fêz de fulana um mito
Nutrindo-me de petrarca,
Ronsard, camões e capim;


Que a sei embebida em leite,
Carne, tomate, ginástica
E lhe colo metafísicas,
Enigmas, causas primeiras.


Mas, se tentasse construir
Outra fulana que não

Essa de burguês sorisso
E de tão burro esplendor?


Mudo-lhe o nome: recorto-lhe
Um traje de transparência;
Já perde a carência humana
E bato-a; de tirar sangue.


E lhe dou todas as faces
De meu sonho que especula;
E abolimos a cidade
Já sem peso e nitidez.


E vadeamos a ciência,
Mar de hipóteses.a lua
Fica sendo nosso esquema
De um território mais justo.


E colocamos os dados
De um mundo sem classe e imposto;
E nesse mundo instalamos
Os nossos irmãos vingados:


E nessa fase gloriosa,
De contradições extintas,
Eu e fulana, abrasados,
Queremos...que mais queremos?


E digo a fulana: amiga,
Afinal nos compreendemos.
Já não sofro, já não brilhas,
Mas somos a mesma coisa


( uma coisa tão diversa da que pensava que fossemos.)

mais uma do mestre

Soneto do amigo

Enfim, depois de tanto erro passado
Tantas retaliações, tanto perigo
Eis que ressurge noutro o velho amigo
Nunca perdido, sempre reencontrado.


É bom sentá-lo novamente ao lado
Com olhos que contêm o olhar antigo
Sempre comigo um pouco atribulado
E como sempre singular comigo.


Um bicho igual a mim, simples e humano
Sabendo se mover e comover
E a disfarçar com o meu próprio engano.


O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma multiplica...





Vinicius de Moraes

terça-feira, 4 de maio de 2010

coisas que você não pode morrer sem saber

''não tem muito a ver com o assunto do blog, mas eu achei legual, tals, bom tá aí...



Ah Meu Deus ... como consegui viver esses anos sem essas preciosas informações ???





§Se você ficar gritando por 8 anos, 7 meses e cinco dias, terá produzido energia sonora suficiente para aquecer uma xícara de café.
(Não parece valer a pena.)


§Se você peidar constantemente durante 6 anos e 9 meses, terá produzido gás suficiente para criar a energia de uma bomba atômica.
(Agora sim!)

§O coração humano produz pressão suficiente para jorrar o sangue para fora do corpo a uma distância de 10 metros.
(Uau!)

§O orgasmo de um porco dura 30 minutos.
(Na minha próxima vida, quero ser um porco!)

§Uma barata pode sobreviver 9 dias sem sua cabeça até morrer de fome.
(Ainda não consegui esquecer o porco ... )

§Bater a sua cabeça contra a parede continuamente gasta em média 150 calorias por hora.
(Não tente isso em casa; talvez no trabalho!)

§O louva-deus macho não pode copular enquanto a sua cabeça estiver conectada ao corpo. A fêmea inicia o ato sexual arrancando-lhe a cabeça.
('Querida, cheguei! O que é is.....')

§A pulga pode pular até 350 vezes o comprimento do próprio corpo. é como se um homem pulasse a distância de um campo de futebol.
(Trinta minutos...que porco sortudo! Dá pra imaginar?)

§O bagre tem mais de 27 000 papilas gustativas.
(O que é que pode haver de tão saboroso no fundo de um rio?)

§Alguns leões se acasalam até 50 vezes em um dia.
(Ainda prefiro ser um porco na minha próxima vida...qualidade é melhor que quantidade!)

§As borboletas sentem o gosto com os pés.
(Isso eu sempre quis saber)

§O músculo mais forte do corpo é a língua.
(Hmmmmmmmm..)

§Pessoas destras vivem em média 9 anos mais do que as canhotas.
(E se a pessoa for ambidestra? Será que vivem 4,5 anos...rs)

§Elefantes são os únicos animais que não conseguem pular.
(E é melhor que seja assim!)

§A urina dos gatos brilha quando exposta à luz negra.
(E alguém foi pago para descobrir isso?!)

§O olho de um avestruz é maior do que o seu cérebro.
(Conheço gente assim)

§Estrelas-do-mar não têm cérebros.
(Conheço gente assim também)

§Ursos polares são canhotos.
(Se eles começarem a usar o outro lado, viverão mais ???)

§Seres humanos e golfinhos são as únicas espécies que fazem sexo por prazer.
(E aquele porco???)





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(Esse porco vai me tirar o sono...)

sabedoria anônima

Se alguém hoje lhe bloquear as portas, não gaste sua energia com confrontos, procure as janelas.


Lembre-se da sabedoria da água:

''Ela nunca discute com seus obstáulos, ela simplesmente os contorna''...

e de novo

mais algumas do nosso Brasil

 aí vão mais algumas pérolas do nosso Brasil pra vocês:

sábado, 1 de maio de 2010

AS COISAS

As coisas são como são
As coisas dão certo ou não.

As coisas dão forma a ação.
As coisas deformam a emoção

É certo que de certa forma
Com o tempo tudo toma forma

E que aproveitando bem o tempo
Teremos tempo até mesmo para perder tempo

E no tempo certo apesar de teu esforço tudo dará certo,
Pois as coisas são como são e
Não adianta sair de perto...

As coisas dão certo ou não...
As coisas dão forma a ação...

As coisas deformam a emoção e depois de
Bem deformada faz bem a nossa formação

As coisas são como são
As coisas dão certo ou não..

José Guilherme S. Filho