terça-feira, 17 de agosto de 2010

Leminski reage à aula de português

Há um poema do negro-polaco curitibano Paulo Leminski. O ASSASSINO ERA O ESCRIBA, que retrata bem o tipo de aula desinteressante de muitas escolas atuais.


O assassino era o escriba

Meu professor de análise sintática era o tipo do sujeito inexistente.
Um pleonasmo, o principal predicado de sua vida,
regular como um paradigma da 1ª conjunção.
Entre uma oração subordinada e um adjunto adverbial,
ele não tinha dúvidas: sempre achava um jeito
assindético de nos torturar com um aposto.
Casou com uma regência.
Foi infeliz.
Era possessivo como um pronome.
E ela era bitransitiva.
Tentou ir para os EUA.
Não deu.
Acharam um artigo indefinido na sua bagagem.
A interjeição do bigode declinava partículas expletivas,
conectivos e agentes da passiva o tempo todo.
Um dia, matei-o com um objeto direto na cabeça.


Paulo Leminski

O metalinguistico poema é uma representação metonímica das aulas de algumas escolas. Não dar vez à alienação [...] torna rico o ensino. Talvez assim muitos alunos deixem de querer esganar o professor como primeiro objeto direto que tiverem à mão.


Essa matéria (poema e comentário) foi tirado da revesta LÍNGUA PORTUGUESA da editora segmento, um número de 2006.
O vilão

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