"No meio do caminho" é o que se pode chamar de poema-escândalo. Publicado pela primeira vez na modernista Revista de Antropofagia, em 1928, deflagrou uma saraivada de críticas na imprensa.
Violentos, irônicos, corrosivos, os críticos simplesmente desancavam o autor dos versos e diziam, em suma, que aquilo não era poesia.
Reacionários e gramatiqueiros, eles se sentiam provocados pelas repetições do poema e pelo "tinha uma pedra" em lugar de "havia uma pedra".
Em 1967, para marcar os 40 anos do poema, Drummond reuniu o extenso material publicado sobre ele no volume Uma Pedra no Meio do Caminho -- Biografia de um Poema (Editora do Autor).
Vale aqui fazer apenas uma pergunta. Havia milhares de poemas modernistas que a crítica conservadora achava ruim ou desqualificava como literatura.
Por que, então, detonaram todas as suas baterias contra a pedra no caminho?
Seria talvez pelo fato de que Drummond — o mais completo modernista — pôs realmente o dedo na ferida e incomodava mais?
O esconderijo do poeta são suas palavras. Nos cantos mais obscuros da língua ele jaz, encapotado. De seus becos vazios e escuros, ele espreita, à espera de alguma palavra descuidada, jogada fora. Forma com elas tijolos com os quais vai erguendo sua fortaleza. Queres encontrar um poeta, procura-o entre os muros de palavras, nos becos da linguagem. Encontrá-lo-á, encolhido, encapuzado, porém atento, aguardando o próximo descuido...
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